Quero me embebedar
Com passos de um velho pandeiro
E sair pra trabalhar
Sem qualquer interesse no dinheiro
Conhecer tudo o que há
Entre o céu, o mar e a minha casa
Descobrir onde é lá
E o que faz um pássaro sem asa
A tua sede é trágica
Domina toda gente
Que quer sempre querer mais
Se não houvesse mágica
Não seríamos diferentes
Enquanto somos iguais
Estou indo embora deste lugar
Pois cada criança que mora sem lar
Me causa vertigem
Só quero voltar quando o homem souber
Que pra ser pura nem toda mulher
Precisa ser virgem
Viver pra encontrar motivo
Me desfazer de toda maquiagem
Percebe que nenhum ser vivo
Devia ser separado pra reciclagem
Propor que a existência
Seja apenas existir e não pensar
Da essência a aparência
É indestrutível a ponto de quebrar
Que separem as calçadas
Apenas automóveis de pedestres
E não serão discriminadas
As ruas pavimentadas por mulheres
Pois fique à vontade
Até o apocalipse
Tingir os tribunais
Agora a verdade
Oculta pelo eclipse
Dos homens irracionais
Talvez ir embora desse lugar
E sentir saudades faz dele o meu lar
Porém não me torna fútil
Só quero voltar quando ninguém fingir
Que o holocausto fez alguém sorrir
E um dia foi útil
Estou indo embora desse lugar
A consciência humana poluiu o ar
E a Lua no céu, mas não cabe julgar
Não sobrou juízo
Só quero voltar pra ver se o amor
Conseguiu transbordar os barris de rancor
Em chuvas de granizo
Então vou embora desse lugar
Aquelas crianças que reclamam do lar
Me trazem vertigem
Só quero voltar quando o homem souber
Que toda menina também é mulher
E pode brincar do que ela quiser
Não tem que ser virgem