Essa porra é um campo minado
Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui
Mas, aí, minha área é tudo o que eu tenho
A minha vida é aqui e eu não preciso sair
É muito fácil fugir, mas eu não vou
Não vou trair quem eu fui, quem eu sou
Eu gosto de onde eu 'to e de onde eu vim
Ensinamento da favela foi muito bom pra mim
Cada lugar um lugar, cada lugar uma lei, cada lei uma razão
Eu sempre respeitei
Qualquer Jurisdição, qualquer área, Jd. Santo Eduardo
Grajaú, Missionária, Funchal, Pedreira e tal, Joaniza
Eu tento advinhar o que você mais precisa
Levantar sua goma ou comprar uns pano, um advogado pra tirar seu mano
No dia da visita você diz, que eu vou mandar cigarro pros maluco lá no X
Então, como eu 'tava dizendo, sangue bom
Isso não é sermão, ouve aí, tenho o dom
Eu sei como é que é, é foda parceiro
Eh, a maldade na cabeça o dia inteiro
Nada de roupa, nada de carro, sem emprego
Não tem ibope, não tem rolê, sem dinheiro
Sendo assim, sem chance, sem mulher
Você sabe muito bem o que ela quer é
Encontre uma de caráter se você puder
Mas tem, é embaçado ou não é?
Ninguém é mais que ninguém, absolutamente
Aqui quem fala é mais um sobrevivente
Eu era só um moleque, só pensava em dançar
Cabelo black e tênis All Star
Na roda da função mó zoeira, tomando vinho seco em volta da fogueira
A noite inteira, só contando história
Sobre o crime, sobre as treta na escola
Eu não 'tava nem aí, nem levava nada a sério
Admirava os ladrão e os malandro mais velho
Mas se liga, olhe ao seu redor e me diga
O que melhorou? Da função quem sobrou? Sei lá
Muito velório rolou de lá pra cá
Qual a próxima mãe que vai chorar?
Há, demorou mas hoje eu posso compreender
Que malandragem de verdade é viver
Agradeço a Deus e aos Orixás
Parei no meio do caminho e olhei pra trás
Meus outros manos todos foram longe demais
Cemitério São luis, aqui Jaz
Mas que merda, meu oitão 'tá até a boca
É! Que vida louca! Por que é que tem que ser assim?
Ontem eu sonhei que um fulano aproximou de mim
"Agora eu quero ver ladrão, pá! Pá! Pá! Pá!", fim
É, sonho é sonho, deixa quieto
Sexto sentido é um dom, eu 'to esperto, morrer é um fator
Mas conforme for, tem no bolso, na agulha e mais 5 no tambor
(Então vai) Então joga o jogo, vamo lá
Caiu a 8 eu mato a par
Eu não preciso de muito pra sentir-me capaz
De encontrar a a fórmula mágica da paz
Eu vou procurar, sei que vou me encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé, mas eu vou atrás
Da minha fórmula mágica da paz
Eu vou procurar e sei que vou encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé, ocê não bota uma fé (eu vou atrás da mina)
Caralho, que calor, que horas são agora?
Dá pra ouvir a pivetada gritando lá fora
Hoje, acordei cedo pra ver, sentir a brisa de manhã e o sol nascer
É época de pipa, o céu está cheio, 15 anos atrás eu 'tava ali no meio
Lembrei de quando era pequeno, eu e os cara
(Faz tempo)
Faz tempo e o tempo não para
Hoje 'tá da hora o esquema pra sair
É, vamo' não demora, mano, chega aí
'Cê viu ontem? Os tiro eu vi, um monte
Então, diz que tem uma 'pá de sangue no campão
Mas ih, mano! Toda mão é sempre a mesma ideia junto
Treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto
Traz a fita pra eu ouvir que eu 'to sem
Principalmente aquela lá do Jorge Ben
Uma pá de mano preso chora a solidão
Uma pá de mano solto sem disposição
Empenhorando por aí, rádio, tênis, calça
Acende num cachimbo virou fumaça!
Não é por nada não, mas aí, nem me liga ó
A minha liberdade eu curto bem melhor
Eu não 'to nem aí pra o que os outros fala
4, 5, 6, preto num Opala, pode vir gambé, paga pau
'Tô na minha, na moral, na maior, sem goró, sem pacau, sem pó
Eu 'to ligeiro, eu tenho a minha regra, não sou pedreiro
Eu não fumo pedra, um rolê com os aliados já me faz feliz
Respeito mútuo é a chave, é o que eu sempre quis (me diz)
Procure a sua, a minha eu vou atrás,
Até mais, da fórmula mágica da paz
Eu vou procurar, eu sei que vou me encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé, mas eu vou atrás
Da fórmula mágica da paz
Eu vou procurar, eu sei que vou me encontrar
Eu vou procurar, eu vou procurar
Você não bota uma fé, mas eu vou atrás (eu vou procurar, e sei que vou me encontrar)
Choro e correria no saguão de um hospital
Dia das crianças, feriado e luto final
Sangue e agonia entra pelo corredor
Ele 'tá vivo? Pelo amor de Deus doutor
4 tiros do pescoço pra cima, puta que pariu a chance é mínima
Aqui fora, revolta e dor, lá dentro estado desesperador
Eu percebi quem eu sou realmente
Quando eu ouvi o meu sub-consciente
E aí Mano Brown, cusão? Cadê você?
Seu mano 'tá morrendo o que você vai fazer?
Pode crer, eu me senti inútil, eu me senti pequeno
Mais um cuzão vingativo, vai vendo
Puta desespero, não dá pra acreditar
Que pesadelo, eu quero acordar
Não dá, não deu, não daria de jeito nenhum
O Derley era só mais um rapaz comum,
Dali a poucos minutos mais uma Dona Maria de luto
Na parede o sinal da cruz, que porra é essa?
Que mundo é esse? Onde 'tá Jesus?
Mais uma vez um emissário
Não incluiu o Capão Redondo em seu itinerário
Porra, eu 'to confuso, preciso pensar
Me dá um tempo pra eu raciocinar
Eu já não sei distinguir quem 'tá errado, sei lá
Minha ideologia enfraqueceu
Preto, branco, polícia, ladrão ou eu
Quem é mais filha da puta, eu não sei
Aí fudeu (fudeu), decepção essas hora
A depressão quer me pegar, vou sair fora
2 de novembro era finados, eu parei em frente ao São Luís do outro lado
E durante uma meia hora olhei um por um e o que todas as senhoras tinham em comum
A roupa humilde, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura
Colocando flores sobre a sepultura
Podia ser a minha mãe, que loucura
Cada lugar uma lei, eu 'to ligado
No extremo sul da Zona Sul 'tá tudo errado
Aqui vale muito pouco a sua vida
Nossa lei é falha, violenta e suicida
Se diz, que me diz que, não se revela
Parágrafo primeiro na lei da favela
Legal, assustador é quando se descobre
Que tudo deu em nada e que só morre o pobre
A gente vive se matando irmão, por quê?
Não me olhe assim, eu sou igual a você
Descanse o seu gatilho, descanse o seu gatilho
E que no trem da humildade, o meu rap é o trilho
Vou dizer
Procure a sua paz
Pra todas as famílias aí que perderam pessoas importantes, morô mano
Procure a sua paz
Não se acostume com esse cotidiano violento
Porque essa não é a sua vida, essa não é a minha vida morô, mano?
Aí Deley, descanse em paz
Aí Carlinhos, procure a sua paz
Aí Kiko, 'cê deixou saudade morô mano
Eu tenho muito a agradecer por tudo
(Agradeço a Deus e aos Orixás) (eu vou procurar e sei que vou me encontrar)
Cheguei aos 27, eu sou vencedor, 'tá ligado, mano?
(Agradeço a Deus e aos Orixás)
Aí, procure a sua, eu vou atrás da minha fórmula mágica da paz
(Você não bota uma fé)
Aê, manda um toque na quebrada lá, Cohab Adventista e pá, rapaziada
Procure a sua paz (você não bota uma fé)
Aqui quem fala é o mano Brown, mano, eu sou preto velho
(Agradeço a Deus, Agradeço a Deus)
27 anos contrariando a estatística, morô mano?
(Agradeço a Deus, Agradeço a Deus)
(Procure a sua paz) (eu vou procurar e sei que vou me encontrar)
(Eu vou procurar) procure a sua (e vou encontrar)
Você pode encontrar a sua paz, o seu paraíso
Você pode encontrar o seu inferno
(A fórmula magica da paz)
Ou procure a paz