Restará uma ponte
Rio de ontem, mar de longe
Veloz é a cinza das horas
Atroz, atraso a solidão
Tempo velho, vento moço
Tempo surdo ao meu ventar
Há fumaça no caminho
Caminho de paz
Caminho de casa
Descaminho: aproximação
Só a valentia da voz abraçará a aflição
é tempo de chuva bêbado vento
Só a lonjura da voz abarcará a ambição
Abrigo é um braço do tempo
Coisa da nossa cabeça,
é medo ou viração
Vira cedo, vira tempo
Coisa de riscar na mão
Coisa de riscar no chão
Só a valentia da voz abraçará a aflição
Abrigo é um braço do tempo
Isso é o dito acerca do ouvido escrito maldito história de alguém
Tão bem ?charlateada? é a glória esquecida memória não sabe de quem
O homem que inventa mentira na qual ele mira a bala e o bandido
?Negovéio? igual parafuso chave sem uso anjo olvido
Pregando as frestas da vida passado é ferida e martelo na mão
O prumo em ?minhalma? relembra medida perdida parede formão
O tempo encurvado é tábua duplada ao vento palavra lamento
Meia água fez-se o cimento de mágoa da vida feito esquecimento
O homem é um papel em que consegue se reconhecer
Igual palavra a quem não foi concedida uma vez sequer verbo ser
Qual lixo seco de lembranças próximas em peso, tamanho e odor
Livro aberto de páginas em branco peso lembranho e cor
Ou as mentiras contidas no tempo de ontem, hoje, contratempos de longe
A memória é uma gaita cheia de dobras, pau pra toda obra resto da sobra assovio de cobra
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Tempo encurvado (Richardo Serraria): gentilmente cedido por Tarrafa Records.