Amolador, cantador
Amolador das facas
Seu romance é com o corte
Que divide o amor da sorte
Que dá visão à cegueira
Na luz certeira da morte
Amolador, cantador
Me reserve outro destino
Não quero ser grito no vento
Brinquedo na mão de menino
Zunindo como um lamento
Gritando num desatino
Amolador, cantador
Me tire todo o ciúme
Desse feitiço afiado
Que é como um talho gemendo
Vai rezando, vai moendo
Meu pensamento amolado
Amolador, cantador
Me tire toda a incerteza
De que os olhos dessa faca
Não vivem pensando em mim
Querendo, sempre, o meu fim
Num mar calmo, sem ressaca
Amolador, cantador
Mas não me tire a bravesa
Os berros, os contra-cantos
Do atrito da faca na cerra
Não me tire os pés da terra
Nem meus sonhos, meus
Encantos