"uma lágrima encheu os rios da face
Do bisavô ao visitar o seu passado
Entre lembranças, disspadas pelo tempo
Iguais retratos que envelhecem desbotados
E na cacimba de água clara das retinas
Se refletiu aquele tempo que se foi
Do povo índio defendendo a sua terra
Até os tropeiros nas canções do êra boi.
Falam de escravos derramando suor e sangue
Cercas, mangueiras levantando em pedras mouras
E mãos rurais antes de lanças e garruchas
Pelos galpões firmando o pulso nas tesouras
Cordas sovadas pelas mãos de homens campeiros
Cifrando golpes no sustento dos rituais
As nazarenas nos garrões dos domadores
E as boleadeiras em mundéus para os baguais
E através do espelho d'água pude ver
Que o ancestral e o campo sentem a mesma dor
Feito uma tropa que se vai gastando léguas
Sem nem saber o que há no fim do corredor
Mirando largo o horizonte dos meus olhos
Sentia o campo maltratado em sua essência
Falsos herdeiros reclamando a velha terra
Sem nem notícias das origens ou querências
E viu que os homens continuam sendo escravos
Que há fios de arame no lugar de pedras mouras
E mãos ociosas erguem foices e bandeiras
Enquanto isso enferrujam-se as tesouras
E os arreios encilhando cavaletes
Sovéus e laços sem espaço pra os pealos
E sem garrões as nazarenas silenciaram
E as boleadeiras se esqueceram dos cavalos
E através do espelho d'alma pude ver
Que a tropa anda e mais comprido é o corredor
E que o campo embora guapo se recende
E sem querer segue sofrendo a mesma dor."