Fazer algo novo é fazê-lo no passado
Por isso só sente bem o instante que passa
Quem faz atos no tempo que já lá vai
E que ainda é o mesmo instante
O que se faz já foi feito
Permanece num recanto da memória
E é recordação e viver constante
É assim o fogo do homem!
Ser é ter sido e não ser ao mesmo tempo
Esquecer é lembrar permanentemente em amnésia
Odiar é amar plenamente o inverso
Só quem vive, sente que há morte
Ser é ter sido e não ser ao mesmo tempo
Esquecer é lembrar perpetuamente em amnésia
Odiar é amar plenamente o inverso
Só quem vive, sente que há morte
E reflecte e pensa que o seu coração bate
Agora e parece ter sempre batido e baterá toda a vida
Enquanto houver corações humanos
A vida é este organismo a lançar sangue
Para todos os universos interiores do homem
Vida é esse precioso líquido vermelho e espesso
Não derramado num campo de batalha, é sentir que se é uma muralha e
Que nos criam fortes, embora débeis...
A vida é disforia
E tudo em mim é disfórico como a vida
Vida que vem e vai nos vagões de sangue
Por isso pratico o mal e sou pura
Porque ao nadar no pântano me limpo
Só saboreia o bem quem sabe o mal
Por isso em vez de açúcar, bebo sal
E salgadas são estas gotas que me banham
O rosto alegre angustiado?
Sim, mas com um sorriso
Os meus olhos são o prazer que o espelho reflete
Orgasmos a que logrei dar vida
O meu corpo é tão perfeito
Como as coisas mais imperfeitas
O Sol é negro e o silêncio tão insuportável
Que um grito dilacera o dia
Nascido em mim a cor da pureza
É o negro, é o vermelho
A sensualidade é azul
Pecado loiro
A vida e eu é toda esta mistura inefável