Zé do Burro
Zé do Burro repentista do sertão do lixo
Zé do Burro sertanejo, artesão, pingente
No cenário da cidade, no centro do desencanto
Tenta dar algum sentido, rimando seu desespero
Seu boneco de estopa, seu xarope pro cabelo
Mata a cobra e leva o ***
Da polícia ao moambeiro
Zé do Burro sua arte, gente como um bicho
Zé do Burro capataz, poeta, puteiro.
Debaixo do viaduto, pressionado no metrô
No canto desiludido, no som do seu "rockenrô"
A paixão pelos "De Bitos" fez seu sonho de cantor
Mas caiu na grande selva, requentando seu valor.
Burro do Zé vai ser alguém
Veio pra cá ganhar dinheiro
Burro do Zé vai ser alguém
Herói da pátria violeiro
O pivete, o macumbeiro, o jogo do bicho. Travesti pela vitrine assiste televisão. Outdoor de detergente no meio do lixo. Velho cego bilheteiro defende seu ganha pão. Violeiro Zé do Burro canta como um grito. Entoando seu ofício de inútil cidadão. Reza como um compromisso pro seu Padim Ciço. Sobrevive qual menino como olhar da aflição. Zé do Burro se atormenta no meio da noite. Crush, crack, fax, sex, mc.donald, pavor. Escravo da violência, vitima do açoite. Zé do Burro canta a sorte de ser um trabalhador. Burro Zé não tem talento de ser desonesto. Burro Zé desiludiu de ser um pobre sonhador. Seu puro canto de lamento é quase que um protesto. De quem perde a esperança de voltar pro seu amor.