O Fado
Corre a noite, de manso, num murmúrio,
Abre a rosa bendita do luar,
Soluçam ais estranhos de guitarra,
Um gemido d'amor anda no ar
Há um repouso imenso em toda a terra,
Parece a própria noite a escutar...
E o canto continua mais profundo
Que página sentida de Mozart!
É o fado. A canção das violetas
Que foram almas tristes de poetas
P'ra quem a vida foi uma desgraça!
Minha doce canção dos deserdados,
Meu fado que alivias desgraçados,
Bendita sejas tu, cheia de graça!
Florbela Espanca (1931), in Juvenília