Eram 8:20 do dia sete de setembro
Nasceu Dorinha em meio a tanto veneno
Seu pai alcoólatra, sua mãe meretriz
Fingiam a todos terem uma vida feliz
Filha mais nova bonita demais
Desejo secreto da tara fria do pai
Dorinha menina faceira e astuta
Criança levada, adolescente muda
Cresceu mulher vazia e triste
Betty Boop da calçada
Cria da loucura, no inferno da miséria
Carne crua que o destino secou
Na madrugada bebe em fuga
Acorda numa ressaca disputa
Dorinha mulher bela e brejeira
Moça bem dada, velha rampeira
Lembra agora triste da infância que não teve
Desde cedo foi mulher da vida
Corpo cansado quatro filhos pra criar
Mais uma vez a perder rastro no mundo
Cadê teu beijo Dorinha? Não tem mais cerveja e pó
Nem Rio de Janeiro nem maconha na esquina
Cadê? Meu deus, Dorinha?
Foi embora pra casa sozinha
Não tem mais colo, nenhum vintém
Dorinha agora não tem mais ninguém
Foi embora pra casa sozinha!