Já recomposto não parei no lugar suposto
Subi mais alto do que pretendia
Senti o vento a tocar-me no rosto
O mês era Agosto ao vigésimo dia
Por quatro previa uma vida vazia
P'rá mente o que queria era pouso decente
Ali eu via a via que alivia
Diferente apatia noutro continente
Confronto surgia
O que sabia tornou-se evidente
Enquanto o meu horizonte expandia
De longe ouvia avisar: "sê prudente"
Passava rente ao lado de trovões
Na vertigem eu vi que tinha companhia
Voava acompanhado por Dragões
A origem da chama que me protegia
Rugindo disseram: "Somos opções
Aspiração oposta à cobardia
Aqueles que te deram sonhos, ambições
Motivação e a força que te guia
Num bater de asas criamos visões
Do que assegura e te der harmonia
Há quem diga que não passamos de ilusões
Ou de simples loucura, mera fantasia
Interpretação
Porque ela difere em várias culturas
O preconceito conosco é enorme
São tantos olhares quanto as nossas leituras
Fica ao teu critério, sem objecção
Se quiseres falar-nos do que procuras
Mas se por ti não for intromissão
Podes dizer então: que te traz às alturas?"
Cheguei aqui vindo da profundeza do mar
E só queria uma béca de paz
O que procuro encontrar de certeza
Mas isso já foi há uma década atrás
Pensei no céu que de certo me isole
Afastar-me do mundo sombrio e voraz
Eu tentei voar tão perto do sol
E não senti passar este frio que faz
Achei-me capaz de não esquecer o que eu era
Nesta altitude onde luzes dançavam
E na verdade que a idade impusera
Não eram tesouros que cruzes marcavam
Em vapores sei como tudo se altera
Mas contudo a dor que tu tens não lavam
Quando me aproximei da mesosfera
Foi para ver porque é que as nuvens choravam
É sem saber onde vamos que a nossa razão alucina
Aprendi a ver o que damos
Treinei a visão com aves de rapina
Voos razantes e já foram tantos
Eu agradeço tudo que o céu me ensina
Mas sinto que já visitei sete cantos
E o que procuro não está cá em cima
Só Grifos e a simbologia
Gárgulas com olhar pesado
E gritos de quem me dizia
"Círculas no lugar errado"
Disseram de mim que morria
Mas ninguém via o meu corpo parado
Eu perguntava e alguém respondia
Que só existia num sonho acordado
Conheci fadas, sei que a vida delas
Só parafraseia os gemidos do mar
Construí estradas, criei cidadelas
Castelos de areia erigidos no ar
Passei tanto tempo sem gravidade
Que já nem me lembro do que é caminhar
Desta razão que pressiona e me invade
Lamento que já não sei como pousar
"Tenta perdoar mas por favor
Antes aceita o perdão
A pressão que sentes é p'ra te lembrar
Que sem ela diamantes já foram carvão
Descreves a reacção de esperar
Para quem viveu anos tão longe do chão
E se quiseres quando o vento mudar
Nós aproveitamos e damos-te uma mão"
Então agarrei-me às placas dorsais
E a seguir descemos em voo picado
Entre as auroras, eventos polares
Estrelas cadentes passaram ao lado
Passamos fases e textos a mais
Que escrevi no céu com a pena do passado
Por entre as horas e ventos solares
Seres permanentes de tempo contado
A voar em espiral em queda livre num amanhecer
Saímos da turbulência fractal
E vimos a Humanidade a crescer
Na perspectiva, a tentar iludir-me
Foi onde pousamos para descer
Mas sem receio pisei terra firme
E senti finalmente este peso do ser