Há uns anos era eu um rebento
E num sentimento de revolução
Procurei o refinamento de pensamento na evolução
A resolução mas sem intenção
Depois do berçário veio o mistério
Então chamaram os cotas ao infantário e disseram
As emoções que manifesta não costumam vir de quem usa bacio
Não é raro o que ele contesta
O silêncio parece ser um desafio
Explica que a vida é funesta
Na filosofia de quem não quer ver
Recusa-se a fazer a sesta diz que descansa quando morrer
Há um problema com este rapaz teimosia tende a ser mau sinal
Parece que a jaula não o satisfaz
Tanta rebeldia não é normal
A autoridade não é eficaz o comportamento é disfuncional
Quanto mais mandam menos ele faz
Olha de lado e responde mal
Mas analisem e digam vocês só o entusiasma o conceptual
Vejam bem o desenho que fez
Diz que o fantasma no meio é real
Que é parte da vida e é recorrente
Que existe em nós e mata lentamente
Que assalta a voz e o subconsciente
E de olhar feroz nos rouba o presente
Atroz é a hora, mas agora entende
Quem o ignora e não o compreende
Não vê de fora como nos prende
Esta sombra que aflora e que mora na mente
Exigente decora a virtude
E limita quem não se conhece e receia
Prudente recorda e ilude
Quem perdeu a fome adormece sem ceia
Sorridente não desilude
Pois vai confortar quem conhece a plateia
Doente procura quem mude
Para se transformar naquilo que odeia
Dinheiro na mira e ganância na veia
O que importa é mostrar a bela figura
Vulgarmente na vida passeia
Conforta brilhar na grande estatura
Contente de ser infeliz
Eficiente e prudente que diz sem dizer
Lamentavelmente que simplesmente
Não se quer sequer conhecer
Mas fingir satura e bloqueia
Acaba por cingir um ser a servir
A estagnar a ceder a calar
E a perder a vida sem partir
Numa existência que se encena
O fantasma prende e condena
Aliena e leva a consentir
Esperar que o tempo acabe
E que a vida venha a seguir
As frases que ele formula
Não costumam ser de quem usa chupeta
Avisa que a alma acumula
A frustração que o corpo mete na gaveta
Explica que o tempo calcula
E faz com que uma satisfação se prometa
Diz que o dinheiro rotula
E que contar com ele é uma mera gorjeta
Há um problema com esta criança
Fala de valores e falsa etiqueta
Insiste que a vida balança
Na esperança da nossa silhueta
Avisa que pelas garras da lembrança
Toda a razão se torna obsoleta
E que vamos cedendo na dança
Para que o ego não nos comprometa
Que por vezes ao vir a mudança
É a semelhança que se denuncia
Faz da dor a herança
Através da qual o fantasma nos influencia
Lá no desleixo na mente casta
Cujo contexto são copos na tasca
É pretexto para conversa rasca
A hora de fecho é notícia nefasta
No pesadelo que não se afasta
Zelo e medo metidos na pasta
E no fundo dizê-lo não basta
Há que reconhecê-lo a vida é madrasta
Devasta aquele que isola
Esclarecido que ser livre é comédia
E vasta em tão gasta sola
Desola porque a esmola virou tragédia
Contrasta pois quem desconsola
Ficou convencido que tomou a rédea
Arrasta quem não o controla
Para o fazer sentir-se abaixo da média
Enrola aquele que duvida
E se toma por um ser pré-determinado
Assola quem sofre em silêncio
Porque calar é ser bem educado
Gesticula quando traduz
Ser obediente é ser um pau mandado
Simula a doença e introduz
O paciente ao sintoma diagnosticado
Mas fingir reduz e humilha
Pois vota o ser a não ser apreciado
A parar a largar porque sonhar
Perde o significado
Numa existência que se encena
O fantasma prende e condena
Aliena e leva a consentir
Esperar que o tempo acabe
E que a vida venha a seguir