Depois da bossa nova e do clichê tropical
Muito mais do que novela, futebol e carnaval
É a periferia multicultural
Espontânea rebeldia de um Brasil marginal
Polícia, milícia, medo e coerção
Latifúndio da terra e da comunicação
É o índio de Iphone, é o menino de Belém
E a novinha de barriga pra ganhar outro neném
Tem racismo? Tem. E um abismo, man
Entre a cerveja artesanal e o camelô que vem no trem
Esgoto a céu aberto, telha de amianto
Tem padre, pastor, tem pajé e pai de santo
A floresta sente o fel, o agrobusiness quer bis
Do poder do anel na caneta do juiz
Mas o instinto criativo dribla a sanha opressora
Porque em terra de saci, qualquer chute é voadora
São muitos os Brasis, perceba no sotaque
Mas todos gritam juntos com a seleção no ataque
Coxinha, petralha, Gregório, Constantino
Sem água na torneira têm o mesmo destino
De carona nos tratores do progresso inevitável
Haja eucalipto e copinho descartável
Se o Neymar é pica, se a Gisele é zica
O deputado mais votado da eleição é o Tiririca
Onde tudo se discute, menos a democracia
Sequestrada e amputada, Saramago advertia
A cultura cria, o mercado se apropria
"Je suis Amarildô", mas a justiça tem miopia
O que não tem é derrotismo que abale a auto-estima
Do mulato, bastardo, anti-herói, Macunaíma
Bota água no feijão e afina o tamborim
De cabeça erguida ostento o orgulho tupiniquim